segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Por Maio dentro


Da mesma maneira

que em Março

os ribeiros sulcam

a terra com gestos

límpidos e frescos,

assim eu desenhei

com os meus dedos

a traços de ternura

o teu rosto,

os teus olhos fundos

de noite,

antes de,

pela primeira vez,

te beijar.

Em paga deste-me

as tuas horas de alecrim,

essas que tinhas guardadas

e desde sempre prometidas,

a um poeta que te encantasse.

Noites houve depois

(ouviam-se já

nas giestas

os passos

do mês de Abril)

em que, com

um carinho lento

e premeditado

te tirei o vestido

e tu me prendaste

com o teu corpo de mulher

que me lavou a sede

no sabor

húmido

quente

que tem.

Corpo que eu bebi

como bebo o vinho

que é sagrado.

Aceitaste

a minha ânsia

da tua carne

até ficaram indistintos

os nossos nervos,

o nosso sangue,

a nossa pele,

no abraço meigo

em que todas as manhãs,

por Maio dentro,

adormecemos.

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