segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Jangada


Já nasci náufrago.

Nunca houve

canto de sereia,

ou rumor de búzio,

que me fizesse

desejar

a interrupta surpresa da espuma,

o infinito abismo de sal,

a vocação

que os marinheiros

dizem haver

no azul .

É por isso que vivo,

os meus receosos dias,

como quem viaja

entre ilhas previsíveis.

É por isso também,

que só demando pelos portos

que têm o sossego

dos lugares reconhecidos.

É muito frágil e iminente a jangada

em que navego a minha vida.

As cordas têm os nós da memória já lassos

e apodrecido o chão, madeira de sonhos,

há muito que, enleada,

a vela da vontade se rasgou.

No horizonte

(em que ao nascer naufraguei )

já nem reparo

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