Da mesma maneira
que em Março
os ribeiros sulcam
a terra com gestos
límpidos e frescos,
assim eu desenhei
com os meus dedos
a traços de ternura
o teu rosto,
os teus olhos fundos
de noite,
antes de,
pela primeira vez,
te beijar.
Em paga deste-me
as tuas horas de alecrim,
essas que tinhas guardadas
e desde sempre prometidas,
a um poeta que te encantasse.
Noites houve depois
(ouviam-se já
nas giestas
os passos
do mês de Abril)
em que, com
um carinho lento
e premeditado
te tirei o vestido
e tu me prendaste
com o teu corpo de mulher
que me lavou a sede
no sabor
húmido
quente
que tem.
Corpo que eu bebi
como bebo o vinho
que é sagrado.
Aceitaste
a minha ânsia
da tua carne
até ficaram indistintos
os nossos nervos,
o nosso sangue,
a nossa pele,
no abraço meigo
em que todas as manhãs,
por Maio dentro,
adormecemos.